Um convite para escutar e sentir
Há algo mágico no vento — esse sopro invisível que atravessa o corpo, que balança as árvores, que carrega cheiros e sons. Para a criança, o vento é um convite à descoberta, um mistério que convida o corpo e o olhar a se movimentarem juntos em dança e atenção.
Brincar com o vento é brincar com o intangível, com o que não se vê, mas se percebe de muitas maneiras. O vento é movimento e silêncio, é força e leveza, é presença e mistério.
Quando a criança sente o vento no rosto ou percebe as folhas dançando, ela está, na verdade, dando início a uma experiência sensorial e cognitiva que transcende o simples ato de brincar. Está entrando em contato com as forças da natureza, aprendendo a observar, escutar e interpretar o mundo.
Observação: O olhar que descobre
Observar o vento é um exercício de sensibilidade e curiosidade. A criança aprende a perceber os efeitos do vento no ambiente — as folhas que se movem, o rastro que o vento deixa na água, a dança das sombras das árvores.
Esse olhar atento desenvolve a capacidade de perceber detalhes e mudanças sutis, uma habilidade fundamental para o aprendizado. A criança aprende que o mundo está em constante transformação, que tudo se move e interage em um ritmo próprio.
Brincar com objetos que o vento pode mover — como folhas, pedaços de papel, fitas, penas e pequenos carrinhos — amplia essa observação. A criança passa a entender relações de causa e efeito, experimenta a força do vento e a resistência dos objetos.
Escuta: O silêncio sonoro do vento
O vento também é som. Pode ser um sussurro suave ou um assobio forte. Ao escutar o vento, a criança desenvolve a percepção auditiva, aprendendo a identificar diferentes intensidades e qualidades do som.
Em momentos de silêncio, o vento aparece como um convidado especial, trazendo histórias invisíveis de outros lugares. Escutar o vento é aprender a ouvir o que não tem voz, a interpretar o espaço pela sonoridade que ele produz.
Objetos movidos pelo vento: a brincadeira que ensina
Desde os tradicionais cataventos até folhas que voam, objetos movidos pelo vento tornam-se parceiros de brincadeira e aprendizado. Ao construir um catavento, por exemplo, a criança explora conceitos de movimento, direção, força e resistência.
A experiência concreta de sentir o vento girar o catavento traz uma compreensão que os livros sozinhos não podem oferecer. A criança experimenta o conceito de energia de forma vivida, entende que o vento pode ser mensurado e que seu movimento pode ser direcionado.
Além disso, brincar com pipas, penas, papéis soltos e tecidos permite que a criança explore a leveza, a textura e o ritmo do vento. Cada objeto oferece uma resposta diferente ao vento, mostrando a diversidade do mundo natural.
Aprendizagens que o vento traz para o corpo e a mente
Brincar com o vento estimula a coordenação motora, pois a criança precisa ajustar seu corpo para correr contra o vento, segurar a pipa ou lançar objetos ao ar. O equilíbrio e a percepção espacial são trabalhados de forma integrada e natural.
Além disso, o vento oferece um contato intenso com o ambiente natural, fortalecendo vínculos afetivos com o mundo ao redor. Essa conexão é base para a formação de atitudes de cuidado e respeito pela natureza.
No campo cognitivo, a criança desenvolve noções básicas de física, meteorologia e ecologia, ainda que de forma intuitiva e prática. Ela aprende sobre as forças invisíveis, o clima, o ciclo das estações e a importância do ar para a vida.
Emocionalmente, o vento pode ser um grande companheiro: traz sensação de liberdade, renovação, acalento ou até desafios, como quando está forte e é preciso buscar proteção. A criança experimenta sentimentos variados que enriquecem sua vivência afetiva.
Para educadores e famílias: sugestões para ampliar o brincar com o vento
- Explorar diferentes espaços ao ar livre: Jardins, praças, praias e campos são cenários perfeitos para sentir o vento em sua plenitude.
- Construir juntos cataventos e pipas: Incentivar as crianças a montar seus próprios brinquedos traz engajamento e aprendizagem prática.
- Observar os efeitos do vento no ambiente: Propor passeios para observar folhas, nuvens e até mesmo o movimento das roupas no varal.
- Criar histórias e poesias sobre o vento: Estimular a imaginação e a linguagem, dando voz ao vento e aos elementos que ele move.
- Registrar as brincadeiras: Fotos, desenhos e relatos podem ajudar a valorizar e refletir sobre as descobertas feitas.
O vento como professor silencioso
O vento não se vê, mas se sente. Não fala, mas conta histórias. Brincar com o vento é um convite para viver a infância em sua plenitude — corpo em movimento, olhos atentos, ouvidos despertos, coração aberto.
Nesse encontro com o invisível, a criança aprende que o mundo é feito de forças sutis e encantadoras, que é possível escutar o silêncio e dançar com o invisível.
E assim, o vento se torna um professor silencioso, que ensina a arte de observar, escutar, sentir e respeitar o mundo — lições para a vida inteira.
Registros das Descobertas: Vento em Palavras, Imagens e Movimentos
Registrar as descobertas feitas pelas crianças nas brincadeiras com o vento é fundamental para valorizar sua experiência, ampliar o olhar dos educadores e fortalecer o processo de aprendizagem. Esses registros podem ser múltiplos e afetivos, aproximando a criança do seu próprio percurso de descoberta e permitindo que educadores e famílias acompanhem e reflitam sobre o caminho trilhado.
Registros das crianças
As crianças podem expressar suas experiências com o vento de diferentes formas, respeitando suas linguagens e ritmos:
- Desenhos e pinturas: Ao registrar o vento, as crianças revelam sua percepção visual e sensorial, usando formas, cores e movimentos para traduzir o intangível.
- Dramatizações e movimentos: Brincar de representar o vento ou criar pequenas danças inspiradas no sopro e nos efeitos do vento ajuda a materializar o invisível.
- Narrativas orais e escritas: Incentivar as crianças a contar histórias, inventar poemas ou descrever suas sensações amplia a linguagem e o pensamento.
- Registros fotográficos e vídeos: Mesmo com apoio do educador, as crianças podem escolher momentos que mais as tocaram para documentar o brincar com o vento.
Registros dos educadores
Os educadores podem criar registros reflexivos que documentam o processo e possibilitam análises pedagógicas:
- Diários de campo e anotações: Observações detalhadas das atitudes, descobertas e interações das crianças durante a brincadeira.
- Fotos e vídeos: Captar as expressões, gestos e objetos construídos permite revisitar as experiências e compartilhar com famílias e equipe.
- Mapas conceituais e registros coletivos: Reunir as impressões das crianças e do grupo sobre o vento, seus sentidos e aprendizagens.
- Relatos reflexivos: Narrativas que conectam a experiência do brincar com teorias pedagógicas e propostas futuras.
O vento na arte
Essa conexão entre arte e natureza pode ser uma ponte para as crianças se relacionarem com o vento de forma poética, reconhecendo o sopro da criação e da transformação presente em suas próprias descobertas.
Proposta de Atividade: “O Vento que Inspira – Brincar e Criar com Arte”
Objetivo:
Ampliar a percepção das crianças sobre o vento por meio da brincadeira, registros diversos e uma criação artística desenvolvendo sensibilidade, linguagem e vínculo com a natureza.
Faixa etária:
Crianças até 5 anos.
Materiais necessários:
- Papeis grandes para desenho e pintura
- Tintas, lápis de cor, giz de cera
- Aparelho para gravação de áudio ou vídeo (celular, tablet)
- Objetos para brincar com o vento: fitas, penas, folhas, cataventos, sinos, guizos, …
- Imagens de obras que representem ventos (impressas ou em tela)
- Espaço ao ar livre com vento
Passo a passo:
- Brincar com o vento:
Leve as crianças para um espaço ao ar livre. Proponha que sintam o vento, observem como ele mexe as folhas, as roupas, os cataventos. Incentive o uso dos objetos para sentir e brincar com o movimento do vento. Deixe que experimentem livremente. - Registrar as descobertas:
Peça para as crianças desenharem o que sentiram ou o que o vento “contou” para elas. Permita que expressem livremente, usando cores e formas que para elas representam o vento e suas sensações. Os educadores podem anotar relatos orais das crianças, registrar conversas, tirar fotos ou pequenos vídeos. - Apresentar a arte como inspiração:
Mostre para as crianças imagens de obras, destacando as linhas, curvas e cores que remetem ao movimento e à força do vento. Converse sobre como o artista “pintou o vento” de um jeito diferente, com formas que se mexem. - Criar uma obra coletiva:
Com base nas experiências da brincadeira e nos desenhos, proponha uma pintura coletiva ou uma grande colagem que represente o vento, usando os traços, cores e movimentos que as crianças escolherem. Estimule que cada uma contribua com seu jeito de ver e sentir. - Compartilhar e refletir:
Faça um círculo para que as crianças contem o que criaram, o que sentiram com o vento e com a pintura coletiva. Registre as falas e percepções. Mostre fotos e vídeos do processo para valorizar o percurso e criar memória afetiva.
Benefícios da atividade:
- Estimula a percepção sensorial e a criatividade.
- Favorece a expressão verbal e artística.
- Aproxima a criança da natureza e da arte.
- Incentiva a reflexão e a valorização do processo de aprendizagem.
- Fortalece o vínculo entre educadores, crianças e famílias por meio do registro e compartilhamento.
Alguns artistas que retratam o vento em suas obras
Vários artistas ao longo da história usaram o vento como tema ou inspiração:
- Claude Monet — com suas paisagens impressionistas onde o movimento das árvores, a ondulação da água e o céu em mutação capturam a presença do vento, como em “Campo de Trigo com Ciprestes” (1889).
- J.M.W. Turner — pintor inglês conhecido por seus quadros dramáticos e atmosféricos, como “Tempestade de Neve” (1842), onde o vento e as forças da natureza são protagonistas visuais.
- Yayoi Kusama — em algumas instalações e esculturas, Kusama explora o movimento e o fluxo do vento por meio de elementos repetitivos e ondulantes que convidam à imersão sensorial.
- Helen Frankenthaler — com suas pinturas abstratas, cria movimentos fluidos que evocam o sopro e o ritmo do vento.
- Alexander Calder — famoso por seus mobiles, esculturas móveis que se movimentam ao menor sopro, transformando o vento em dança visual e sonora.
- Van Gogh – usava a pintura para expressar emoções e sensações intensas, e o vento, mesmo invisível, aparece nas suas obras como um elemento vivo que participa da atmosfera e do sentimento do quadro. Muitas vezes transmitiu a sensação do vento com suas pinceladas vibrantes, cheias de energia e curvas ondulantes criando uma atmosfera em que o vento parece estar presente, moldando a paisagem e os elementos naturais. Um exemplo emblemático é a obra “Campo de Trigo com Corvos” (1890), onde as espigas de trigo parecem ondular sob a força do vento, transmitindo um movimento dinâmico e quase turbulento. As nuvens no céu também têm um ritmo fluido que sugere o vento soprando. Outro quadro famoso é “A Noite Estrelada” (1889), onde os redemoinhos no céu e as estrelas brilhantes formam padrões que evocam um céu agitado, cheio de movimento e energia — uma verdadeira dança do vento e das forças da natureza.
Indicações Literárias

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Bom divertimento a todos!